A casa, para um músico, situa-se numa urbanização de baixa densidade no Pinhal Conde da Cunha, a sul de Lisboa. O lote, com uma situação topográfica bastante invulgar na sua confrontação com a rua, tinha uma diferença de cotas muito acentuada: de 4.3m no extremo Sul, a 2.5m no extremo Norte. Aproveitando a situação existente, a casa ganha uma situação sobranceira à rua, formalizada por um muro de suporte escalonado, interrompido por um pátio de acesso, escavado no terreno.
O volume da casa acompanha o declive da rua com uma cobertura de inclinação única. Para o interior do lote, onde as cotas são mais baixas, a moradia abre-se de nível para o jardim. Assim, a casa encaixa-se no terreno de forma a tornar-se parte indissociável do mesmo.
O piso térreo divide-se em dois níveis: o primeiro, associado ao átrio, contém a garagem, os arrumos, o ginásio com quarto de banho, e escada de acesso ao piso superior; o segundo, meio metro abaixo, contém os espaços sociais, cozinha e sala com duplo pé direito. O piso superior também acompanha esta subdivisão, primeiro acede-se a uma biblioteca, que serve de patamar para o nível dos quartos, mais resguardados. A biblioteca dá ainda acesso ao terraço exterior (0.9m acima), escavado no volume principal, e totalmente despercebido do exterior.
Houve um esforço para que os principais espaços interiores, em ambos os pisos, tivessem ligação direta com o exterior, promovendo múltiplos percursos na habitação. Para tal, foram colocadas plataformas em diferentes níveis, associadas a muros de suporte. Um destes muros contém o volume de água da piscina, e define os limites de um estrado exterior em madeira.
Construir em tijolo, foi um tema dominante do projeto. Construir em tijolo à vista é jogar um jogo. Um jogo com uma peça elementar, o tijolo, cuja dimensão se adapta aos limites naturais da sua manuseabilidade. Um jogo cuja regra de construção, simples e evidente, permite variações infinitas.
Ao introduzir este jogo aditivo de peças como “sistema operativo” do projeto, gera-se, mais do que um rigor dimensional milimétrico, um rigor do pensamento. O rigor modular de que Mies van der Rohe falava ao recordar o pai construtor a fixar as dimensões de uma casa pela colocação, lado a lado, de tijolos inteiros na vala das fundações. Isto porque como qualquer criança que brinque com Legos sabe, os tijolos não se partem, vão-se juntando uns aos outros.
Além da fachada exterior, procurámos também trazer o jogo modular do tijolo para dentro da habitação. Assim, todo o piso térreo foi pavimentado com tijolos maciços assentes lado a lado, e colando os tijolos em paramentos verticais, na cozinha e no terraço superior.
Construir em tijolo pode resultar numa arquitetura de caráter oposto à obsessão e rigor que o seu processo de desenho envolve. Através das qualidades intrínsecas dos materiais escolhidos, o barro cozido, a madeira à vista, a ardósia e o estuque; assim como como pela própria organização aberta dos espaços, tentámos que a casa tivesse esse ambiente de naturalidade e conforto que procurámos.